ELEVAÇÃO
Por sobre os grandes vales, sobre os pantanais,
As montanhas, as nuvens, os mares, as florestas,
Para lá deste sol, para além da atmosfera,
Para lá dos confins das esferas astrais,
Tu moves-te, meu espírito, com agilidade,
E, qual bom nadador deleitado nas ondas,
Sulcas alegremente a imensidão profunda
Com a tua viril voluptuosidade.
Voa para bem longe dos mórbidos miasmas;
Tenta purificar-te no ar superior
E bebe, como um puro e divino licor,
O branco fogo que enche os límpidos espaços.
Por trás destes desgostos e aborrecimentos
Que nos sobrecarregam a vida brumosa,
Feliz de quem consegue, de asas vigorosas,
lançar-se pelos campos claros e serenos;
Aquele cujo pensar é como a cotovia,
Rumo ao céu de manhã, tomando o seu impulso,
- Quem paira sobre a vida e sem esforço decifra
A linguagem das flores e de outras coisas mudas!
Charles Baudelaire
(1821-1867)
in "As Flores do Mal"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral.
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