Bem-vinda a noite para quem vai seguro
e com os olhos claros olha sereno o campo,
e com a vida limpa olha com paz o céu,
sua cidade e sua casa, sua família e sua obra.
Mas de quem vacilante anda e vê sombra, vê o duro
cenho do céu e vive o castigo de sua terra
e a malevolência de seus seres queridos,
inimiga é a noite e sua piedade acosso.
E ainda mais neste páramo da tão alta Rioja,
onde se abre com tal claridade que deslumbra,
tão próxima palpita que muito assombra, e muito
penetra na alma, fundamente a perturba.
Porque a noite sempre, como o fogo, revela,
melhora, pule o tempo, a oração e o soluço,
dá pureza ao pecado, limpidez à lembrança,
castigando e salvando toda uma vida inteira.
Bem-vinda a noite com seu belo perigo.
Claudio Rodríguez
(1934-1999)
Tradução: José Bento
cenho do céu e vive o castigo de sua terra
e a malevolência de seus seres queridos,
inimiga é a noite e sua piedade acosso.
E ainda mais neste páramo da tão alta Rioja,
onde se abre com tal claridade que deslumbra,
tão próxima palpita que muito assombra, e muito
penetra na alma, fundamente a perturba.
Porque a noite sempre, como o fogo, revela,
melhora, pule o tempo, a oração e o soluço,
dá pureza ao pecado, limpidez à lembrança,
castigando e salvando toda uma vida inteira.
Bem-vinda a noite com seu belo perigo.
Claudio Rodríguez
(1934-1999)
Tradução: José Bento
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