MUITAS VEZES, EM CERTAS HORAS BAÇAS.
Muitas vezes, em certas horas baças,
na minha escuridão sufoco brados,
de dúvidas, de medos, de cuidados,
de vergonhas, de mínimas desgraças.
Meu pensamento, porque pões mordaças?
Porque trazes os outros enganados?
A fome alheia não se joga aos dados.
Podem traí-la as confissões que faças.
Que importa que haja névoas nesta luz
com que ando a iludir-me no que sou,
se dela encho os que comigo vão?
Sirva o que o pensamento me deduz,
e não importe o que é o amargo pó
que a deduzi-lo ergo do meu chão.
Armindo Rodrigues
(1904-1993)
In "Beleza Prometida"
(Outubro de 1950)
juan luis panero / e de súbito anoitece
Há 17 horas
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