TERRA
Humanamente falando, é um suplício
ser homem e suportá-lo até às fezes,
saber que somos luz e sofrer frio,
humanamente escravizados pela morte.
Atrás do homem vem soltando gritos
o abismo, adiante abre seus hélices
a vertigem, e, afogando-se em si mesmo,
no meio deles, o medo cresce, cresce.
Humanamente falando, é o que digo
não há forma de morrer que não nos gele.
Feroz é a sombra e viva é sempre a faca.
Que fazer, homem de Deus, senão morrer?
Humanamente, em terra, é o que escolho.
Morrer horrivelmente, para sempre.
Devolver-me, morrer, não ter nascido
humanamente nunca em nenhum ventre.
Blas de Otero
(1916-1979)
Trad. de José Bento
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