domingo, 19 de julho de 2015

VI APENAS UMA VEZ


Vi apenas uma vez
um sol tão ensanguentado.
            E nunca mais
Descia funesto sobre o horizonte
e parecia
que alguém havia escancarado as portas do inferno.
Perguntei pelo observatório astronómico
e hoje sei o porquê.


O inferno, conhecemos: está em toda parte
e caminha sobre duas pernas.
            E o paraíso?
Talvez o paraíso nada mais seja
além de um sorriso
           por muito tempo esperado
e lábios
           que murmuram o nosso nome.
E aquele frágil instante fabuloso
quando depressa podemos esquecer-nos
do inferno.

Jaroslav Seifert
(1901-1986)
Trad. de Aleksandar Jovanovic.



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