TALVEZ ME SUCEDA EM MIM MESMO
Talvez me suceda em mim mesmo. Não sei quem mas alguém matou
em mim.
Também ontem pressentia a desaparição e estava ameaçado pela luz, mas
hoje é outra a faca diante dos meus olhos.
Não quero ser o meu próprio estranho, estou entorpecido pelas visões. É difícil
por
todos os dias luz nas veias e trabalhar na retracção de rostos
desconhecidos até que se convertam em rostos amados e depois chorar
porque vou abandoná-los ou porque eles me vão abandonar.
Que
estupidez ter medo à beira da falsidade, que cansaço
abandonar a inexistência e
morrer depois todos os dias.
Antonio Gamoneda
In "Ardem as Perdas" quasi (2004)
Trad. de Jorge Melícias
Eloy Sánchez Rosillo (Tarde de Junho)
Há 1 hora
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