quinta-feira, 23 de julho de 2015

 TALVEZ ME SUCEDA EM MIM MESMO


Talvez me suceda em mim mesmo. Não sei quem mas alguém matou
 em mim. Também ontem pressentia a desaparição e estava ameaçado pela luz, mas hoje é outra a faca diante dos meus olhos.


Não quero ser o meu próprio estranho, estou entorpecido pelas visões. É difícil

por todos os dias luz nas veias e trabalhar na retracção de rostos desconhecidos até que se convertam em rostos amados e depois chorar porque vou abandoná-los ou porque eles me vão abandonar.

Que

estupidez ter medo à beira da falsidade, que cansaço

abandonar a inexistência e

morrer depois todos os dias.



Antonio Gamoneda
 In "Ardem as Perdas" quasi (2004)
Trad. de Jorge Melícias


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