SOL NEGRO
De que trevas me vem a claridade!
É da noite da minha humanidade
Que arranco chispas de revelação...
Desaterro a negrura,
E, quanto mais fundura,
Mais luz reluz no aço do enxadão.
Mas quem pode no curso duma vida
Remover toda a sombra de que é feito?
Nessa cama de sombra é que me deito
E acordo a tactear desde que vim...
Teimo, contudo, na teimosa empresa
De encher os olhos cegos da certeza
De que também há sol dentro de mim.
Coimbra, 20 de Junho de 1966
Miguel Torga, "Diário X"
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