FAZ FRIO
Há que ter paciência com o Sol.
Há quarenta dias
Que não se vê por nenhuma parte.
De sobrancelhas franzidas
Os astrónomos ianques examinam o céu
Como se estivesse cheio de maus presságios
E concluem que o Sol anda de viagem
Pelos países subdesenvolvidos
Com as malas cheias de dólares
Em missão de caridade cristã.
E os sábios soviéticos
─ Que estão por lançar um homem à Lua ─
Informam que o Sol
Anda pelos impérios coloniais
A fotografar índios desnutridos
E assassínios de negros em massa.
Em quem,
em quem podemos acreditar?
No poeta chileno
que nos pede
Para termos paciência com o pobre Sol!
Ele estaria feliz de brilhar
E de bronzear os corpos e as almas
Dos banhistas do hemisfério norte
─ Especialmente as coxas das raparigas
Que ainda não cumpriram vinte anos ─
Para isso foi feito.
Encantá-lo-ia aquecer a terra
Para que novamente o trigo floresça.
Mas as nuvens não o deixam sair.
Ele não tem culpa de nada:
Há que ter paciência com o Sol.
Nicanor Parra
"in Canciones Rusas(1967)
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