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(Um morto qualquer, assassinado pela polícia em qualquer parte)
Não insultem este morto com flores
Enterrem-no assim mesmo nu, com peso de raiz,
desamparado de lágrimas e canções,
o corpo rasgado do inferno dos homens
e a boca ainda aberta no último grito
-longo até o riso das caveiras do futuro.
Flores para quê?
Para cobrir de música o roxo do Outro Frio?
Atirem-lhe antes cardos e espinhos,
ásperos desta cólera sagrada
onde a sua alma continuará a arder
até o fim da humanidade dos homens
-no brilho comum
dos nossos olhos de bandeira.
in "Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI."
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