A PAZ
Se eu te pedisse a paz, o que me darias
pequeno insecto da memória de quem sou
ninho e alimento? Se eu te pedisse a paz,
a pedra do silêncio cobrindo-me de pó,
a voz rubra dos frutos, o que me darias
respiração pausada de outro corpo
sob o meu corpo?
Perdoa-me ser tão só, e falar-te ainda
do meu exílio. Perdoa-me se não te peço
a paz. Apenas pergunto: Que me darias
em troca se ta pedisse? A sabedoria?
Um cavalo de olhos verdes? Um tronco de madeira
para nele gravar o teu nome junto ao meu?
Ou apenas uma faca de fogo, intranquila,
no centro do coração?
Nada te peço, nada. Visito, simplesmente,
o teu corpo de cinza. Falo-lhe de mim,
entrego-te o meu destino. E dele me liberto
só de perguntar-te: o que me darias
se te pedisse a paz
e soubesses de como a quero revestida
por uma crosta de sol em liberdade?
Casimiro de Brito
do livro "Jardins de Guerra"(1966)
(Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa 1971)
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