domingo, 21 de fevereiro de 2010

Jacques Brel



AS BEATAS

Envelhecem aos saltinhos
Entre gatos e cãezinhos
As beatas
E se a velhice não vem mais lenta
É porque confundem amor com água-benta
Como todas as beatas

Se eu fosse o diabo e as visse passar
Acho que me deixava capar
Se eu fosse Deus e as visse rezar
Acho que deixava de acreditar
Graças às beatas

As beatas procissionam aos saltinhos
Entre pias de água-benta
As beatas
Não dizem nada mas falam tanto
Já tenho o ouvido que arrebenta
As beatas

Vestidas de preto como o senhor Cura
Que é muito bonzinho com qualquer criatura
Embeatam-se de olhos no chão
Como se Deus lhes dormisse sob o tacão
De beata

No sábado à noite depois do trabalho
O operário parisiense vem p'ra rua
Mas as beatas não
Fecham-se a sete chaves em casa
Para não lhes arrastarem a asa
As beatas

Que preferem encarquilhar
Entre novenas e missinhas
Orgulhosas por conseguir preservar
Jóia rara no meio das coxinhas
De beata
Morrem então aos saltinhos
Lentamente formam montinhos
As beatas
Que dão o salto mortal
Num arrepio matinal
De beata

E num céu que não existe
Anjos fazem paraíso sem tardar
Uma auréola e duas asas
E lá vão elas pelo ar
Em saltinhos... de beata

Jacques Brel
(tradução: Eduardo Maia)

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