terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa.

(Foto Fel de Cão)
Eu caminhava anónimo e distante.

Eu caminhava, anónimo e distante
Do que via e ouvia,
Quando, sem eu esperar, surgiu diante
Dessa minha apatia

Uma criança a rir e a correr
E a olhar para mim;
E despertei do enigma do meu ser
Como que num jardim…

Foi como se uma flor se destacasse
Ao meu olhar casual
E do seu sonho súbito o acordasse
E o tornasse normal.

Flor de ser pequenina! Como tudo
Quanto estava pensando
Se me volvia nitidamente mudo
Só de sentir-me olhando.

Riu, e deu pulos e ainda riu mais
E outra vez me olhou
E fez, com um adeus, grandes sinais
Àquilo que não sou.

Fernando Pessoa
(15-09-1934)

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