DEPOIS DO ACIDENTE
Quando levantaram aquele ferro amarelo,
viu-se que coisa rebentara: duas;
as duas mãos do homem: a grande mão
esqerda, a grande mão direita.
Esmagadas no óxido. O sangue
engrossou com o ar. Levaram-no.
Se nos encontrarmos, amigo, há que beber à saúde do ferro.
Levarei à tua boca o copo com o vinho
e, quando sentires que bebes com as minhas mãos,
compreenderás que não estás mutilado no mundo.
Asseguro-te que quando chegar o que virá
ninguém vai chorar pelas suas velhas mãos atadas.
E além do mais já não terei porque
estar triste por ti. Será então
que terás mãos de verdade.
António Gamoneda
In "Oração Fria"
Trad. de João Moita.
elio pecora / a lua surgiu, redonda
Há 9 horas
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