domingo, 5 de fevereiro de 2012
Cintio Vitier
CONFISSÃO
Bem que eu não saiba história, ou muito pouca, sou
o autor destas páginas.
Tudo me aconteceu desde o princípio.
Sou o protagonista,
a vitima, o culpado e o carrasco.
Sou o que olha e o que actua.
As idades descansaram em mim.
Os dias foram o meu alimento.
As ideias, minhas asas,
meus punhais.
Pelo vazio de minhas mãos passou
o rio das armas.
Meus olhos são os fornos em que ardeu
a criação inteira.
Meu canto é o silêncio.
Homem, mulher, criança, ancião,
cada gesto meu treme nas estrelas
atravessando o tempo irrepetível
Eu sou. Não busquem outro,
não torturem outro,
não amem outro.
Não tenho maneira de escapar.
Cintio Vitier
((1921-2009)
in "Rosa do Mundo 2001 Poemas Para o Futuro"
Trad. de José Bento.
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