HÁ UM VENENO EM MIM...
Há um veneno em mim que me envenena,
um rio que não corre, um arrepio,
há um silêncio aflito quando os ombros
se cobrem de suor pesado e frio.
Há um pavor colado na garganta,
e tiros junto à noite, e o desafio
(algures na escuridão) de alguma coisa
calando o fraco apelo que eu envio.
Há um papa que morre enquanto escrevo
estas linhas de angústia e solidão,
há o fogo da Breda, os olhos gastos.
Há a mulher que espera confiada
um pálido vazio aerograma;
e há meu coração posto de rastos.
Fernando Assis Pacheco
(1937-1995)
In "Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial"
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