AMANHÃ
Na hora que vem ao longe,
cresce e vem, cresce e vem,
- os que tiverem frio hão-de lançar os meus versos ao lume
e a chama há-de subir...
- os que tiverem fome hão-de lançar os meus versos à terra,
como se fossem estrume,
e a terra há-de florir...
Os meus poemas de tragédia são degraus
da hora que vem,
- cresce e vem... -
- cresce e vem... -
Nos meus poemas cresceu, e sofreu, e aprendeu
nos meus poemas revoltos,
por isso vem de longe, nua, nua,
e traz os cabelos soltos...
Hora que vens de longe,
de longe vens, de rua em rua;
- hás-de passar e hás-de parar por toda a parte,
nua, formosamente nua,
- para que já não possam desnudar-te.
Sidónio Muralha
(1920-1982)
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