PARA VÓS O MEU CANTO
Para vós o meu canto companheiros de vida!
Vós, que tendes os olhos profundos e abertos,
vós, para quem não existe batalha perdida,
nem desmedida amargura,
nem acidez nos desertos;
vós, que modificais o leito de um rio;
- nos dias difíceis sem literatura,
penso em vós: e confio;
penso em mim : e confio;
- para vós os meus versos, companheiros de vida!
Se canto os búzios, que falam dos clamores,
das pragas imensas lançadas ao mar
e da fome dos pescadores,
- penso em vós, companheiros,
que trazeis outros búzios para cantar...
Acuso as falas e os gestos inúteis;
aponto as ruas tristes da cidade
e crivo de bocejos as meninas fúteis...
Mas penso em vós e creio em vós, irmãos,
que trazeis ruas com outra claridade
e outro calor no apertar das mãos.
E vou convosco. - Definido e preciso,
erguido ao alto como um grito de guerra,
à espera do Dia do Juizo...
Que o Dia do Juízo
não é no céu... é na Terra!
Sidónio Muralha
(1920-1982)
Para vós o meu canto companheiros de vida!
Vós, que tendes os olhos profundos e abertos,
vós, para quem não existe batalha perdida,
nem desmedida amargura,
nem acidez nos desertos;
vós, que modificais o leito de um rio;
- nos dias difíceis sem literatura,
penso em vós: e confio;
penso em mim : e confio;
- para vós os meus versos, companheiros de vida!
Se canto os búzios, que falam dos clamores,
das pragas imensas lançadas ao mar
e da fome dos pescadores,
- penso em vós, companheiros,
que trazeis outros búzios para cantar...
Acuso as falas e os gestos inúteis;
aponto as ruas tristes da cidade
e crivo de bocejos as meninas fúteis...
Mas penso em vós e creio em vós, irmãos,
que trazeis ruas com outra claridade
e outro calor no apertar das mãos.
E vou convosco. - Definido e preciso,
erguido ao alto como um grito de guerra,
à espera do Dia do Juizo...
Que o Dia do Juízo
não é no céu... é na Terra!
Sidónio Muralha
(1920-1982)
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