domingo, 18 de março de 2012
Daniel Filipe
SOMOS A ALEGRIA O CORPO O SAL DA TERRA
Somos a alegria o corpo o sal da terra
o sol das manhãs férteis a música do outono
a própria essência do amor a força das marés
somos o tempo em marcha
Esta é a única verdade
sabemos que vos é difícil aceitá-la
envoltos como estais em suborno e usura
bancos alta finança empréstimos externos
E no entanto esta manhã um pássaro
pousou à vossa beira embora
inutilmente
A pequena dactilógrafa matou-se
nós sabemos porquê
Um carpinteiro desempregado rasgou a roupa
e saiu cantando para a rua
nós sabemos porquê
Uma noite
a jovem costureira não voltou para casa
nós sabemos porquê
Um poeta
roeu as unhas enquanto foi possível
mas faltou-lhe a coragem no momento derradeiro
nós sabemos porquê
Nós sabemos porquê
NÓS SABEMOS PORQUÊ
E no entanto é doce dizer pátria
sonhar a terra livre e insubmissa
inteiramente nossa
Sonhá-la como se pedra a pedra construíssemos
Como se nada houvesse antes de nós
e desde as fundações a erguêssemos completa
pura alegre acolhedora virgem
de medos mortos insepultos
Regresso pelo tempo ao dia de hoje
primeiro de Maio de 1962
hora segunda da meditação
Daniel Filipe
(1925-1964)
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excelente blogue.
ResponderEliminarParabéns.
Ainda bem que passou a moda da blogosfera. Ficaram os melhores...que resistem à robótica do tempo.