segunda-feira, 31 de agosto de 2009
domingo, 30 de agosto de 2009
sábado, 29 de agosto de 2009
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Poema
(Foto Fel de Cão)
DESENCANTO
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
(Manuel Bandeira)
DESENCANTO
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
(Manuel Bandeira)
Bella Guttman morreu a 28 de Agosto de 1981
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Poema
Poema dum Funcionário Cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
(António Ramos Rosa)
Poesia
Gin sem tónica
Uma garrafa de gin
estava a preocupar
o pescador
a garoupa e o rodovalho
não tinham aparecido
pró jantar
que fazer?
telefonou ao ministro
da Pesca e do trabalho
mas o ministro
estava a trabalhar
na cama
com a mulher
foi então
que a garrafa de gin
sugeriu discretamente
porque não
telefonar ao presidente?
telefonaram
o presidente da nação
estava em acção
na cama
com a mulher
nessa altura
até que enfim
encontraram a solução
o pescador
foi para a cama
com a garrafa de gin
Mário-Henrique Leiria, in
"Contos do Gin-Tonic", Ed. Estampa, 1973
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Friedrich Nietzsche morreu a 25 de Agosto de 1900.
Poema
BLOG
Mantivera no fim da adolescência
aquilo a que chamava simplesmente
o seu diário íntimo:
páginas manuscritas onde ardiam
rastilhos de mil sonhos que rasgavam
as mordaças da angústia social,
a timidez tão própria da idade.
Nessa caligrafia cuja cor
fora ainda a do sangue
colheu a energia necessária
pra atravessar como um sonâmbulo
o ordálio daquela juventude,
o seu incandescente calendário
de amizades vorazes, tão velozes
como os amores que julgava eternos
e outras feridas mal cauterizadas.
Hoje quase não volta a essas páginas:
estamos no século XXI
e em vez do diário de outros tempos
mantém agora um blog
onde todos os dias extravasa
recados, atitudes, confissões,
coisas no fundo tão inofensivas
como o fogo que outrora lhe acendia
as frases lancinantes
— embora hoje em dia quando escreve
tenha por um momento a ilusão
de que as suas palavras continuam
a propagar ainda o mesmo vírus,
e a alimentar, quem sabe, os mesmos
sonhos
sempre que alguém desconhecido as ler
como quem só assim escutasse
um segredo na noite do mundo.
Mas, apesar de todo o entusiasmo
que o mantém acordado por noites sem fim,
ele adivinha que também virá
um dia a abandonar sem saber como
o seu actual vício solitário
e dentro de alguns anos, ao reler
as frases arquivadas no computador,
talvez tudo isso lhe pareça então
fruto de gestos tão adolescentes
como os que antigamente preenchiam
esses cadernos amarelecidos
e hoje sepultados para sempre
em esquecidas gavetas de outro século.
(Fernando Pinto do Amaral)
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Poema
Poema
UM DIA NÃO MUITO LONGE NÃO MUITO PERTO (Foto Fel de Cão)
Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e gagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?
Ruy Belo, Todos os Poemas
Assírio & Alvim 2004
sábado, 22 de agosto de 2009
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Alexandre O'Neill morreu a 21 de Agosto de 1986
Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Poesia Infantil
(Foto Fel de Cão)
A BONECA
Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
Dizia a primeira: “É minha!”
— “É minha!” a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca…
Olavo Bilac
A BONECA
Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
Dizia a primeira: “É minha!”
— “É minha!” a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca…
Olavo Bilac
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Menino que vais na rua
Menino que vais na rua,
não cantes nem chores: berra!
Cospe no céu e na lua
e aprende a pisar a terra.
Aprende a pisar o Mundo.
Deixa a lua aos violinos
dos olhos dos vagabundos
e dos poetas caninos.
Aprende a pisar a vida.
Deixa a lua às costureiras
- pobre moeda caída
de quem não tem algibeiras.
Aprende a pisar no chão
o silêncio do luar
sem sentir no coração
outras pedras a gritar.
Pisa a lua sem remorsos,
estatelada no solo...
Não hesites! Quebra os ossos
dessa criança de colo.
Pisa-a, frio, com coragem,
sem olhos de serenata:
que isso que vês na paisagem
não é ouro nem é prata.
Menino que vais na rua,
não chores, nem cantes: berra!
ou, então, salta p'rá lua
e mija de lá na terra.
José Gomes Ferreira
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Mar Sonoro
domingo, 16 de agosto de 2009
A 16 de Agosto de 1952, nesta modesta casa, em Salgueira de Cima- Casal dos Bernardos-Ourém nasceu "Fel de Cão"...
sábado, 15 de agosto de 2009
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
A minha próxima vida - Woody Allen
Na minha próxima vida quero vivê-la de trás para a frente. Começar morto para despachar logo esse assunto. Depois acordar num lar de idosos e sentir-me melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a pensão e começar a trabalhar, receber logo um relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar 40 anos até ser novo o suficiente para gozar a reforma. Divertir-me, embebedar-me e ser de uma forma geral promíscuo, e depois estar pronto para o liceu. Em seguida a primária, fica-se criança e brinca-se. Não temos responsabilidades e ficamos um bebé até nascermos. Por fim, passamos 9 meses a flutuar num spa de luxo com aquecimento central, serviço de quartos à descrição e um quarto maior de dia para dia e depois Voila! Acaba como um orgasmo! I rest my case.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Pergunta do programa "JOGO DUPLO" de 12 de Agosto de 2009
«Primeiro estranha-se. Depois entranha-se». Fernando Pessoa e a Coca-Cola...
Em Portugal diz-se com muita frequência que "Primeiro estranha-se. Depois entranha-se.". Curiosa é a origem desta expressão: em 1928 a COCA-COLA pediu a Fernando Pessoa para elaborar um slogan publicitário. Fernando Pessoa criou o célebre "Primeiro estranha-se. Depois entranha-se ". As vendas dispararam, mas este slogan esteve na origem do fim da comercialização da Coca-Cola em Portugal até 25 de Abril de 1974. Tudo isto porque o director de Saúde de Lisboa - o dr. Ricardo Jorge - mandou apreender o produto existente no mercado e deitá-lo ao mar. O dr. Ricardo Jorge justificava o seu entendimento argumentando que se do produto faz parte a coca, da qual é extraído um estupefaciente, a cocaína, a mercadoria não podia ser vendida ao público, para não intoxicar ninguém; mas se o produto não tem coca, então anunciá-lo com esse nome para o vender seria burla, o que igualmente justificava que ele não fosse permitido no mercado. Perante o «slogan» de Fernando Pessoa, o dr. Ricardo Jorge entendia que ele era o próprio reconhecimento da toxicidade do produto, pois que, se primeiro se estranhava e depois se entranhava, isso é precisamente o que sucede com os estupefacientes que, embora tomados a primeira vez com estranheza, o paciente acaba por adquirir a sua habituação. É caso para dizer que a literatura pesa muito...muito mesmo. Ainda bem.
Em Portugal diz-se com muita frequência que "Primeiro estranha-se. Depois entranha-se.". Curiosa é a origem desta expressão: em 1928 a COCA-COLA pediu a Fernando Pessoa para elaborar um slogan publicitário. Fernando Pessoa criou o célebre "Primeiro estranha-se. Depois entranha-se ". As vendas dispararam, mas este slogan esteve na origem do fim da comercialização da Coca-Cola em Portugal até 25 de Abril de 1974. Tudo isto porque o director de Saúde de Lisboa - o dr. Ricardo Jorge - mandou apreender o produto existente no mercado e deitá-lo ao mar. O dr. Ricardo Jorge justificava o seu entendimento argumentando que se do produto faz parte a coca, da qual é extraído um estupefaciente, a cocaína, a mercadoria não podia ser vendida ao público, para não intoxicar ninguém; mas se o produto não tem coca, então anunciá-lo com esse nome para o vender seria burla, o que igualmente justificava que ele não fosse permitido no mercado. Perante o «slogan» de Fernando Pessoa, o dr. Ricardo Jorge entendia que ele era o próprio reconhecimento da toxicidade do produto, pois que, se primeiro se estranhava e depois se entranhava, isso é precisamente o que sucede com os estupefacientes que, embora tomados a primeira vez com estranheza, o paciente acaba por adquirir a sua habituação. É caso para dizer que a literatura pesa muito...muito mesmo. Ainda bem.
Demande d’emploi,
Il y a des gens qui font de l’argent,
d’autres de la neurasthénie,
d’autres des enfants.
Il y a ceux qui font de l’esprit.
Il y a ceux qui font l’amour,
ceux qui font pitié.
Depuis le temps
que je cherche à faire quelque chose!
Il n’y a rien à y faire:
il n’y a rien à faire.
(Jacques Rigaut)
Il y a des gens qui font de l’argent,
d’autres de la neurasthénie,
d’autres des enfants.
Il y a ceux qui font de l’esprit.
Il y a ceux qui font l’amour,
ceux qui font pitié.
Depuis le temps
que je cherche à faire quelque chose!
Il n’y a rien à y faire:
il n’y a rien à faire.
(Jacques Rigaut)
Miguel Torga nasceu a 12 de Agosto de 1907.
Cântico de Humanidade
Hinos aos deuses, não.
Os homens é que merecem
Que se lhes cante a virtude.
Bichos que lavram no chão,
Actuam como parecem,
Sem um disfarce que os mude.
Apenas se os deuses querem
Ser homens, nós os cantemos.
E à soga do mesmo carro,
Com os aguilhões que nos ferem,
Nós também lhes demonstremos
Que são mortais e de barro.
Miguel Torga, in 'Nihil Sibi'
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Poema
Arte Poética
Palavras,
só palavras, nada mais
que a vã matéria, o seu sentido
eco de muitos ecos, repetido
reflexo de poderes tão irreais
como essas emoções graças às quais
terei de vez em quando pretendido
dizer um só segredo a um só ouvido
ciente de que nunca são iguais
os segredos e ouvidos que procuro
às cegas neste mar sempre obscuro
onde a voz desagua como um rio
sem nascente nem foz - apenas uma
incerta confidencia que se esfuma
e só foi minha enquanto me fugiu.
(Fernando Pinto do Amaral)
sábado, 8 de agosto de 2009
Fumar pode Matar.
sempre que pegava num cigarro (alguns por dia)
o maço em grandes letras advertia
fumar pode matar
aspirava o fumo com um lento e profundo prazer
e ouvia a eterna ladainha da mulher
fumar pode matar
expelia o fumo demoradamente
e sopravam-lhe do lado de trás e da frente
fumar pode matar
sacudia a cinza no cinzeiro de granito
e alguém lhe repetia o mesmo dito:
fumar pode matar
produzia espirais e nuvens de fumaça
e ouvia sempre vozes mais chatas do que a traça
fumar pode matar
é verdade que sentia uma garra a apanhar-lhe o pulmão
mas a garra maior era a daquela expressão
fumar pode matar
e voltava a acender um cigarro tranquilo
e a ver o maço de novo a adverti-lo
fumar pode matar
aspirava o fumo com redobrado prazer
e ouvia de novo a ladainha da mulher
fumar pode matar
expelia o fumo ainda mais demoradamente
e sopravam-lhe outra vez de lado de trás e da frente
fumar pode matar
sacudia a cinza no cinzeiro de granito
e alguém lhe repetia o mesmo dito
fumar pode matar
até que um dia a sogra caiu na mesma tolice
fez-lhe um grande sermão e concluindo disse
fumar pode matar
fumar pode matar sim nunca se esqueça
e ele pegou no cinzeiro e fodeu-lhe a cabeça
fumar pode matar
fuma ainda mais sobretudo quando se lembra do delito
ou quando olha para o cinzeiro de granito
fuma a dobrar quando sobrevem a tosse e o catarro
ou quando sente no pulmão alguma dor
mas sobretudo sobretudo não larga o cigarro
no dia do não fumador
Anthero Monteiro (inédito)
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
A Mulher Cão Paula Rego / José Fanha.
A MULHER CÃO
JOSÉ FANHA
(Sobre um quadro de Paula Rego)
Ela acendeu a brasa do fogão
anos e anos a fio.Esfregou o soalho
lavou a roupa e os vidros
da janela costurou bainhas
descosidas e levou toalhas a cheirar
a rosmaninho à senhora do andar
de cima.Foi ao quintal buscar hortelã
para a canja e adormeceu ao som
das gargalhadas felizes dos meninos
hoje já todos engenheiros
com a Graça do Senhor.Agora está atada ao côncavo
da terra por atilhos
grossos.Ladra á lua
e tudo nela
é carne e sangue.Morde a mão
e dança a valsa
sobre o chão confuso
de algum sonho diluído lá no longe
nos botões do maestro
do coreto aos domingos e feriados.Ela é grossa
e ladra á lua.
Sente o corpo a crepitar
e rasga o coração.Inesperadamente
entre coágulos de sangue
fala línguas
que nunca ninguém lhe ensinou.Está atada
à sangrenta forja
das gramáticas lunares e procura
uma palavra
um nome mesmo que obscuro
e difícil de entender.É uma mulher grossa
e no côncavo do corpo
fala línguas
sem sentido.Deixou secar os coentros
a salsa
e a hortelã.Chama-se cão
e ladra à lua.Vive atada
às chamas que a consomem.
José Fanha
(de “Marinheiro de outras luas”)
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Tomai lá do Aleixo.
domingo, 2 de agosto de 2009
sábado, 1 de agosto de 2009
Poema
Poema
(Noite estrelada de Vicente Van Gogh)
O ÚLTIMO POEMA
Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Bandeira, Manuel, 1886-1968
O ÚLTIMO POEMA
Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Bandeira, Manuel, 1886-1968
Argumento Circular.(Adpatado do livro Platão e um Ornitorrinco entram num bar)
Era Outono e os índios de uma reserva americana perguntaram ao novo chefe se o Inverno iria ser muito rigoroso ou se, pelo contrário, poderia ser mais suave.
Tratando-se de um chefe índio da era moderna, ele não conseguia interpretar os sinais que lhe permitissem prever o tempo; no entanto, para não correr muitos riscos, foi dizendo que sim, deveriam estar preparados e cortar a lenha suficiente para aguentar um Inverno frio.
Mas como também era um líder prático e preocupado, alguns dias depois teve uma ideia. Dirigiu-se à cabine telefónica pública, ligou para o Serviço Meteorológico Nacional e perguntou:
— O próximo Inverno vai ser frio?
— Parece que na realidade este Inverno vai ser frio respondeu o meteorologista de serviço.
O chefe voltou para o seu povo e mandou que cortassem mais lenha. Uma semana mais tarde, voltou a falar para o Serviço Meteorológico:
— Vai ser um Inverno muito frio?
— Sim, responderam novamente do outro lado, O Inverno vai ser mesmo muito frio .
Mais uma vez o chefe voltou para o seu povo e mandou que apanhassem toda a lenha que pudessem sem desperdiçar sequer as pequenas cavacas.
Duas semanas mais tarde voltou a falar para o Serviço Meteorológico Nacional:
— Vocês têm a certeza que este Inverno vai ser mesmo muito frio? Absolutamente respondeu o homem Vai ser um dos Invernos mais frios de sempre.
— Como podem ter tanto a certeza? perguntou o Chefe índio.
O meteorologista respondeu:
— É que os índios estão cortando lenha que nem uns doidos.
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